Carolina era uma linda menina. Mas tão magrinha!
Filha mais nova e seis irmãos, era delicada e gentil. Seu pai era
sapateiro; dava um duro danado para sustentar uma família numerosa.
Já dona Isaura era professora, mas deixou de trabalhar para cuidar
da filharada. A sorte ( ou não?) dos pequenos é que por ser
professora a mãe lecionava em casa para todos eles.
Viviam em uma cidade pequena. Sr. Oscar Ferreira
era conhecido de todos e, como em uma imensa família, todos se
ajudavam. Luigi, o verdureiro, não deixava faltar legumes e verduras
na mesa da família Ferreira. No fundo do quintal, dona Isaura criava
umas galinhas, então se não fosse ovo, nos finais de semana eles
tinham carne.
COM POUCOS RECURSOS, POUCAS OPORTUNIDADES A VISTA,
ERA NATURAL QUE NÃO TIVESSEM MUITOS SONHOS, NÃO É MESMO?
ENGANO! ESSAS CRIANÇAS FORAM INSTRUÍDAS A
ACREDITAR EM SEU POTENCIAL E A TER FÉ EM DEUS.
__ TUDO É POSSÍVEL AO QUE CRÊ! - Dizia com fé,
dona Isaura.
Carolina acalentava o sonho de ser bailarina. Lia
Livros sobre o assunto que encontrava na Biblioteca pública e,
sempre que podia, ensaiava em casa alguns passos que decorava olhando
figuras. Seu Pai fez sapatilhas para ela, e dona Isaura costurou, a
mão, um lindo vestido de bailarina. Os irmãos a incentivavam,
Quando ela apresentava "um espetáculo" para a família.
O tempo passou, Carolina cresceu e do seu sonho,
não esqueceu. Ainda jovem, viu uma oportunidade bater à sua porta:
na capital, estava se apresentando uma famosa companhia de balé.
- Deixa eu assistir mãe? Deixa? - Pediu Carolina.
- Fale com seu pai, se sele deixar, você vai. -
Disse Dona Isaura.
- Só vai se for acompanhada! Leve o Ricardo. -
Disse o pai.
Ricardo o irmão mais velho, guardião dos irmãos,
torceu o nariz, detestava balé.
- Maninho, por favor, vem comigo! - Suplicou
Carolina.
- Esta bem, mas só desta vez!
Carolina assistiu a apresentação e ficou
encantada. Era exatamente como ela imaginava. Quando o espetáculo
terminou, ela correu até os bastidores e perguntou:
- Vocês estão precisando de gente para
trabalhar?
O coreógrafo olhou aquela adolescente de olhos
brilhantes e disse:
- Por enquanto só procuramos uma camareira.
Carolina logo falou:
- Esta ótimo! Eu gostaria de me candidatar.
Ricardo, ouvindo aquela conversa, interrompeu:
- Ficou louca? Sem falar com nossos pais? Nada
disso!
Carolina entendeu que tinha sido muito precipitada
e baixando os olhos, disse:
- Desculpe, é que seria a minha chance de
ficar perto do meu sonho.
Ricardo abraçou a irmã e disse:
- Vamos para casa. Fale com a mamãe. Ela saberá
o que fazer.
Chegando ao lar, Carolina correu para os braços
da mãe e, emocionada, falou:
-Mãe, agora eu tenho certeza, é esta a carreira
que eu quero seguir. Quero ser bailarina.
Tiago, irmão do meio, era o mais sério e logo
argumentou.
- É uma vida bonita só nos palcos. Exige
sacrifícios, disciplina e recursos. Você sabe bem, Carolina, que
recursos nós não temos.
-Eles precisam de uma camareira! Eu posso
trabalhar e aprender! Mãe, fale com o papai, peça para ele deixar
eu ir.
- É perigoso! - Disse Ricardo.
- É emocionante! - Falou Lourdinha, a outra irmã
mais velha.
- Sozinha, você não vai a Capital! - Sentenciou
o pai.
- Eu posso ir com ela! - Falou Douglas. Enquanto
ela trabalha na companhia de balé, eu posso fazer aquele estágio na
gráfica do Sr. Afonso.
- É mesmo! - Falou Carolina esperançosa. - Então
pai, o senhor deixa?
- Tudo bem! Mas o Douglas vai me prometer que vai
ficar de olho em você.
-Pode deixar pai. - Falou Douglas solene.
Carolina olhou para a mãe e disse:
- A senhora sempre disse que ter fé é crer nas
coisas que não se vê e a nossa recompensa é ver as coisas que a
gente crê, não é verdade?
- Se for a vontade de Deus, minha filha. E se for
para o seu bem.
- Mãe, Deus não me daria o sonho e a vontade de
ser bailarina, se não fosse para o meu bem, não é? Você consegue
me ver, pela fé, como uma grande bailarina, mãe? - perguntou
Carolina, colocando-se nas pontas dos pés. Dona Isaura, com voz
firme, disse:
- Sim, minha filha, eu vejo, e você, consegue se
ver?
- Sim, mãe, eu me vejo no palco como a primeira
bailarina de uma grande companhia.
- Vai morrer de fome! - Brincou Ricardo.
- Não, não vou. Vou ser famosa e feliz. E vou
ajudar nosso pai.
- Que Deus te ouça e honre tua fé. - Falou o
pai.
Tudo acertado. Douglas e Carolina se mudaram para
a capital. Carolina iniciou seu trabalho como camareira e, nas horas
vagas, aprendia os passos com o coreógrafo. Douglas fiel a promessa
feita ao pai, cuidava de Carolina, como se fosse sua filha. Dias,
semanas, meses se passaram, e a tal sonhada chance parecia não
chegar.
Douglas se efetivou na Gráfica, mas Carolina
parecia longe do seu objetivo.
- Vai desistir? - Perguntou Douglas.
- Nem pensar! Eu vou continuar tentando. Uma hora
vai dar certo.
Sempre que podia, Carolina pedia uma chance, mas o
quadro de dançarinas estava completo. "Não tem problema,
continue crendo e trabalhando", pensava ela.
Quando desabafava nas cartas que enviava a sua
mãe, a resposta que recebia era: " SE TIVERES FÉ, DO TAMANHO
DE UMA SEMENTE DE MOSTARDA, VOCÊ REMOVERÁ MONTANHAS. NADA SERÁ
IMPOSSÍVEL". E terminava dizendo: " REMOVA A SUA MONTANHA
DE PEDRA EM PEDRA E LOGO VERÁ QUE CONSEGUIU".
Mais 2 meses se passaram e algo inesperado
aconteceu: uma das meninas torceu o pé e surgiu uma vaga.
- É a sua vez, Carolina! - Falou Douglas. - Dance
como nunca dançou antes, como se a sua vida dependesse dessa dança.
Carolina ouviu o irmão. Surpreendeu até o
coreógrafo. Logo em seguida, a surpresa: um contrato de experiência
para atuar como bailarina no Grupo de Apoio.
- É um começo - falou o Coreógrafo.
- Eu aceito! - Falou a Jovem.
Daquele dia em diante, Carolina não
parou mais. Efetivou-se como bailarina da companhia e seu
esforço e dedicação foram recompensados. Em um ano, tornou-se a
primeira bailarina do Grupo Jovem. Em meados de dezembro a companhia
de dança apresentou o "Quebra Nozes", com Carolina
como 1ª bailarina. Na primeira fila, estavam o pai orgulhoso, a mãe
emocionada e os 5 irmãos criando a torcida mais animada.
- É minha filha! - Falava o senhor Oscar.
- Ela conseguiu! - Declarou Dona Isaura.
Quando as cortinas se abriram, lá estava Carolina
linda e feliz! Dona Isaura viu no palco a bela jovem na ponta
dos pés, e lembrou:
"VOCÊ CONSEGUE ME VER PELA FÉ, COMO UMA
GRANDE BAILARINA, MÃE?
E com um sussurro, ela falou a filha, ao seu
coração:
"SIM MINHA FILHA, EU VEJO!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário